Aforismo V.....
Para não surtar da última quinta eu com os outros eus, sem conseguirmos dormir, nas últimas noites assistimos tudo que pudemos que foi produzido por Pasolini – o fantasma - percebi a complexidade daquele que talvez tenha sido um dos últimos intelectuais públicos. Uma complexidade que emerge banhada não só de antíteses, como vida individual e coletiva, mas também de aparentes contradições entre conservadorismo e o mais alto grau possível de subversão, entre uma sacralização do milagre do mundo e um ateísmo marxista – “cristianismo ateu” eu diria... ,mas Recalcati disse isso antes. Pasolini critica o conluio entre um novo fascismo e a então crescente civilização do consumo, e sonhava com um tempo mítico, onde o mistério do mundo se expressaria, por exemplo, no desaparecimento dos vaga-lumes. Assim, se o “Novo fascismo" não se funda sobre um regime policialesco que nega a liberdade individual, mas sobre um regime paradoxalmente permissivo que retira todo o sentido da vida em nome de uma ilimitada promessa hedonista. Até as poetas reproduzem esse hedonismo vazio. Minha filha nunca viu um vagslume. O desaparecimento dos vaga-lumes é o símbolo de um tempo em que o mistério ainda habitava o mundo. O mundo é desmistificando pela mercadoria, e até o amor se confunde com mercadoria. Pasolini é o retrato de um conflito não resolvido entre vida e história, corpo e razão, indivíduo e comunidade, mito e desmitização; as metamorfoses do poder e a resistência da imagem e das palavras.
Ah, Vagalumes? Desses eu sei do paradeiro, se não de todos de uma boa parte deles. Brincam de céu por aí. Com (muita) sorte eles aparecem volta e meia. Todos juntos.
ResponderExcluirEles seguem as fadas, os sonhos e pousam onde há alguma verdade...
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