5 de janeiro de 2017

E continuam as andanças dos "Zés" ...

"(...) Com quinze quilômetros para andar, um homem tem seu vagar a pensar, dá balanço à vida (...) o tempo aqueceu, a mochila já não pesava muito, mas bambeava  escorregando do ombro, aqui me sentei a descansar, uns tantos metros fora da estrada, não longe, mas coberto, estendi dobrada a manta por causa da umidade do chão, pousei a cabeça na mochila e adormeci, tinha tempo para chegar onde quero. Sentou-se neste instante ao pé de mim uma velha muito velha, é pouca sorte minha e o que vale a ela, mas a mim não sei que me valia, a força que ela tinha, seria feitiço, pegou-me na mão, dizendo: não casarás nunca mais, nem terá mais filhos, farás cinco grandes viagens a longes terras e arruinarás a tua saúde, não terás terra tua a não ser da sepultura, não és mais do que os outros, e terás mesma essa sorte pelo tempo de seres pó e coisa nenhuma, a não ser os ossos que sobram, iguais aos de toda a gente, que irão parar a qualquer lado, aí não chega minha adivinhação, mas enquanto vivo não farás nada mal feito, ainda que te digam o contrário, e agora levanta-se que são horas. Mas sabendo que eu estava a sonhar, fiz de contas que não ouvi a ordem e deixei-me continuar a dormir. Por isso não dei conta que à minha beira também estivera uma princesa a chorar e que pegando em minha mão duríssima e calosa, ainda que tão jovem, tão jovem era (...) E então tendo esperado tanto, retirou-se a princesa arrastando sobre os tojos e as estevas o cetim do seu vestido, e por isso ao acordar, estava o mato coberto de flores brancas que antes não vira. (...)”

















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