Aforismo
III
Antonin Artaud, o expoente escritor e teórico do 'teatro da crueldade', redigiu muitas coisas a respeito da loucura. Houve extensos diálogos entre Artaud e seus médicos psiquiatras, nos quais Artaud defendia sua crença de que era vítima de invocações vudú, questionava a conduta coercitiva de aprisionar pessoas em manicômios, mas de forma aparentmente contraditória exigia seu direito de se isolar de outras pessoas. Em resposta a isto, alguns de seus psiquiatras invocavam com insistência a necessidade, para Artaud, de se conformar com a sociedade a qual até eles mesmos eram também críticos. Mas, em determinados momentos finalizando os diálogos, vinha sempre a advertência: 'Se falar de novo de enfeitiçamento, Sr. Artaud, levará 65 eletrochoques'. Deve haver um sentido nas 'afirmações delirantes' de Artaud, pois de fato elas representavam uma profunda realidade da vida, uma realidade que, anos após sua morte, nós os atentos apenas começamos a apreciar: ele tinha mais a dizer com relação à loucura do que todos os livros e pesquisas publicadas de Psiquiatria. Talvez a dificuldade de Artaud consistia no fato de que ele via demais e falava demais sobre a verdade. No fm de sua vida, tinha se curado. Não é talvez excessivamente absurdo afirmar que, com muita frequência, é quando as pessoas começam a ficar mentalmente sadias e reconhecer a verdade nos fatos (na história!), com ou sem ajuda de estimulantes como os usados por Benjamin, Freud ou Bob Marley (rs,rs,rs) que elas acabam entrando nos hospitais de doenças mentais.